segunda-feira, 24 de maio de 2010

Cottinelli Telmo

José Ângelo Cottinelli Telmo nasceu em Lisboa a 13 de Novembro de 1897.

Tornou-se uma das personagens mais ecléticas do seu tempo, traçando caminhos em áreas tão variadas como a arquitectura, o cinema, a banda desenhada, a fotografia e a música.

Frequentou o Liceu Pedro Nunes e completou o curso de arquitectura em 1920, na Escola de Belas Artes de Lisboa.

Ainda estudante em 1918, colaborou com Leitão de Barros, seu cunhado, na produção dos filmes “Mal de Espanha” e “Malmequer”. Foi co-fundador da Tóbis em 1932 e aí realizou em 1933 o filme “A Canção de Lisboa”, com Vasco Santana, Beatriz Costa e António Silva, primeira longa-metragem sonora produzida em Portugal, e que se tornaria um modelo para os cineastas de então.
Enquanto arquitecto e ainda em 1922, no início da careira, realiza o Pavilhão de Honra da Exposição de Rio de Janeiro. No ano seguinte entra para a CP e durante 25 anos de carreira, projectou vários edifícios ferroviários, tendo deixado uma marca indelével na paisagem portuguesa. Foi o arquitecto – chefe da Exposição do Mundo Português de 1940, tendo projectado a Fonte Monumental, o Plano da Praça do Império e a zona Marginal de Belém. Foi ainda director da revista Arquitectos de 1938 a 1942.

Faleceu em Cascais, a 18 de Setembro de 1948, vítima de um acidente marítimo.
As suas obras de referência são:

          - Pavilhão de Honra da Exposição do Rio de Janeiro, (1922);
          - Estação de Sul e Sueste, Lisboa (1931);
          - Estúdios da Tóbis ao Lumiar, Lisboa (1932);
          - Arquitecto – chefe da Exposição do Mundo Português, Lisboa (1940);
          - Praça do Império e Zona Marginal de Belém, Lisboa (1941);
          - Padrão dos Descobrimentos em colaboração com Leopoldo de Almeida;
          - Edifício da Standart Electric, Lisboa (1948).

Jorge Segurado (1898 – 1990)

Nasceu em Lisboa em 1898. Licenciou-se em arquitectura na Escola de Belas Artes de Lisboa, onde foi colega de outros vultos maiores da arquitectura modernista portuguesa.

Casa da Moeda (1941), Arq. Jorge Segurado
Foi o arquitecto da Casa da Moeda (1941) uma das obras maiores do modernismo arquitectónico português. Em 1931 viajou para Berlim, onde se reuniu ao seu amigo e artista plástico Mário Eloy. Juntos passaram temporada larga na capital alemã, onde este último mantinha residência, e foram passageiros de tempos que iriam mudar a Europa e o Mundo.

Produziu vasta obra arquitectónica e literária. As suas obras de maior nomeada são:               

    * Companhia dos Eléctricos, Lisboa (1927);
    * Projecto do Liceu Dª Filipa de Lencastre, Lisboa (1931);
    * Casa da Moeda, Lisboa (1941);
    * Estúdios da Tóbis Portuguesa, Lisboa (1944);
    * Os quatro Blocos de Habitação Colectiva no cruzamento da Av. EUA e Roma, Lisboa, (1958);
    * Blocos Habitacionais do Montepio na Av. do Brasil, Lisboa (1958)

Pardal Monteiro (1897 - 1957)

Porfírio Pardal Monteiro nasceu em 1897 em Pêro Pinheiro, Sintra.

Licenciou-se em Arquitectura na Escola Superior de Belas Artes e privou com o conjunto de futuros arquitectos que viriam a renovar o cenário urbano português.

O tirocínio com Miguel Ventura Terra (1868 – 1919) e o enquadramento desde jovem como docente no Instituto Superior Técnico, legitimam uma formação de cariz conservadora, no entanto não suficiente para contaminar as suas convicções vanguardistas, particularmente o apreço pela estética Art Deco.

Correspondente da revista de referência Architecture d’Aujourd’hui, nela publicou parte da obra modernista realizada em Lisboa, nomeadamente a referente ao novo Instituto superior Técnico.

Faleceu em Lisboa em 1957 de doença grave.

Foi um dos arquitectos mais importantes do modernismo português e deixou obra vasta e de vulto. Citamos apenas os edifícios mais marcantes:

  • Prédio Luís Rau, Lisboa (Prémio Valmor 1923);
  • Palacete Val Flor, Lisboa (Prémio Valmor 1928), já desaparecido;
  • Prédio de Félix Lopes Ribeiro, Lisboa (Prémio Valmor 1929);
  • Estação do Cais do Sodré, Lisboa (1928);
  • Instituto Superior Técnico, Lisboa (1935);
  • Instituto Nacional de Estatística, Lisboa (1935);
  • Monumento ao Presidente José de Almeida em colaboração com o escultor    
  • Leopoldo de Almeida, Lisboa (1937),
  • Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, Lisboa (Prémio Valmor 1938);
  • Edifício do Diário de Notícias, Lisboa (Prémio Valmor 1940);
  • Gare Marítima de Alcântara, Lisboa (1943);
  • Gare Marítima da Rocha Conde de Óbidos, Lisboa (1948);
  • Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Lisboa (1952);
  • Faculdade de Direito de Lisboa (1957);
  • Faculdade de Letras de Lisboa (1958);
  • Hotel Ritz, Lisboa (1957);
  • Reitoria da Universidade de Lisboa (1961).

Cristino da Silva (1896 – 1976)

Luís Cristino da Silva nasce em Lisboa em 1896, filho e neto de artistas plásticos, nomeadamente do pintor romântico João Ribeiro Cristino da Silva.

Conclui a licenciatura em Arquitectura na escola de Belas Artes de Lisboa em 1919 e no mesmo ano parte para Roma. Em 1920 fixa-se em Paris e estuda como bolseiro, nos ateliers de Leon Ázema e Laloux.

Regressa a Lisboa em 1925 e realiza a apresentação dos seus projectos parisienses na Sociedade Nacional de Belas Artes. No mesmo ano reflexo do acolhimento crítico das suas ideias vanguardistas, desenha o cinema Capitólio, referência paradigmática do modernismo português.
A partir de 1932, sob a acção de Duarte Pacheco, então ministro das obras públicas, concebeu projectos de grande envergadura. Mais tarde com o projecto do Liceu de Beja estabeleceu o marco do funcionalismo conceptual da arquitectura portuguesa dos anos 30, infelizmente inconsequente do ponto de vista da produção de equipamentos similares.

 Foi ainda durante a sua longa carreira profissional, primeiro professor e depois director da Escola de Belas Artes de Lisboa. Algumas das referências principais da sua vasta obra:

  •   Casa Bellard da Costa, Lisboa (1930);
  •   Cinema Capitólio, Lisboa (1931);
  •   Café Portugal, Lisboa (1932), lamentavelmente desaparecido;
  •   Liceu de Beja (1937);
  •   Malha urbana envolvente da Praça do Areeiro, Lisboa (1938/49);
  •   Pavilhão de Honra e de Lisboa da Exposição do Mundo Português (1940);
  •   Arquitecto chefe da Cidade Universitária de Coimbra (1948).

Cassiano Branco (1897 – 1970)

Cassiano Viriato Branco nasceu em Lisboa na freguesia da Sé. Durante a escola primária conhece o futuro engenheiro Joaquim Ávila do Amaral, com quem no futuro, colaboraria em diversos projectos.

Casou aos 20 anos com Maria Elisa Soares Branco e dois anos mais tarde entra no curso de Arquitectura da Escola de Belas Artes de Lisboa. Aqui conheceu e privou com os maiores nomes da arquitectura portuguesa do seu tempo, aqueles que anos mais tarde escreveram o modernismo nas ruas e praças de Portugal: Pardal Monteiro, Jorge Segurado, Cristino da Silva, Carlos Ramos e Cottinelli Telmo Em 1925 e antes de concluir a licenciatura, viaja pela França, Bélgica, Holanda e Inglaterra e assiste em Paris no mesmo ano, à Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas, epicentro do Art Déco, e que o viria a influenciar decisivamente. Regressa a Lisboa e conclui a licenciatura em Arquitectura em 1926.

Homem de espírito livre e irreverente, atravessou a vida profissional em permanente curto-circuito com o poder instituído. São conhecidas as suas divergências com Duarte Pacheco, edil lisboeta e Ministro das Obras Púbicas, e por isso poucas das anteriores levam o seu traço. Isto não o impediu de ser provavelmente, a personalidade mais marcante e inovadora do modernismo português e assim por aquele motivo, Lisboa pode contar com um conjunto vasto de prédios de concepção arquitectónica vanguardista com a sua assinatura, que influenciaram decididamente a arquitectura urbana corrente do seu tempo.

Em 1958 é detido pela PIDE por apoiar a candidatura do general Humberto Delgado.

Morre em Lisboa em 1970.

A sua obra é vasta principalmente a de carácter urbano residencial e o seu período mais prolífico e interessante na perspectiva modernista, corresponde ao intervalo 1932 – 1938. Nos Itinerários Modernistas vários são os prédios de rendimento mencionados. Aqui destacaremos apenas as suas obras mais paradigmáticas, a saber:
  • Projecto do Cinema Éden, Lisboa (1931/32);
  • Moradias na Av. António José de Almeida, Lisboa (1933);
  • Hotel Vitória, Lisboa (1934);
  • Coliseu do Porto (1941);
  • Hotel Britania, Lisboa (1943);
  • Cinema Império, Lisboa (1947);
  • Portugal dos Pequeninos, Coimbra (1949);
  • Cinema Império, Lisboa (1952).

Do Bairro Azul ao Saldanha

Este é um percurso que atravessa algumas das zonas mais nobres de Lisboa e em consequência permite um olhar sobre alguns dos prédios de rendimento modernistas mais belos e interessantes. A deslocação para o início do percurso pode ser realizada por metropolitano; estação de S. Sebastião, linha amarela.

E tudo começa na Av. Marquês da Fronteira, uma das portas de entrada do Bairro Azul, construído nos anos 30 nos terrenos da antiga Quinta de Palhavã, por iniciativa do promotor Bernardino Lopes em associação com os engºs Jacinto Bettencourt e Joaquim Ávila do Amaral. A estética adoptada aproximou-se mais da sintaxe Deco conservadora (116), tão ao gosto deste último, e menos do estilo modernista radical protagonizado por Cassiano Branco.

O bairro vive em três ruas e em cada uma delas a frente é marcada pelos dois prédios gaveto (206, 207), imponentes na representação de pórticos de entrada sobre a Marquês da Fronteira e a António Augusto de Aguiar. Os prédios são todos diferentes entre si e os planos de fachada são utilizados como telas, onde a geometria Deco encontra lugar para se expressar.

É um dos poucos bairros modernistas lisboetas sem mácula patrimonial e sem dúvida o mais eclético, mas lamentavelmente nos últimos anos, tem vindo a ser transformado em via de acesso a vastos equipamentos públicos e privados, causando-lhe uma natural descaracterização. Encontra-se em vias de classificação para Imóvel de Interesse Municipal pelo IPPAR. O conjunto de prédios abrangido por esta classificação é os da Rua Fialho de Almeida 1 a 17 e 2 a 30; Av. Ressano Garcia 1 a 37 e 2 a 30; Av. Ramalho Ortigão 1 a 37 e 2 a 18; Av. Marquês da Fronteira 2 a 8; Av. António Augusto de Aguiar 163 a 207.

O percurso pode iniciar-se pela Fialho de Almeida a artéria mais a sul e realizar-se em serpentina. Destaque para o nº 15 (208) desta última, datado de 1937 e da autoria de Cassiano Branco; os nºs 25 (212) de 1934, do mesmo autor e o 16 (216) ambos na Ressano Garcia; o nº 191 (368) da António Augusto de Aguiar.

O Café dos Poetas, na Fialho de Almeida 32 A, é uma boa solução para um café e nota final, a Nobel poetisa chilena Gabriela Mistral residiu na Ramalho Ortigão, 11, de 1935 a 39, enquanto cônsul em Lisboa. Escreveu um livro e contou que ali foi feliz.

De saída do bairro pela António Augusto de Aguiar e do outro lado da avenida encontra-se o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian. A colecção de modernistas portugueses é notável e a melhor do género. Jorge Barradas (1847-1971); José de Almada Negreiros (1893-1970); Sarah Afonso (1899-1983); Mário Eloy (1900-1983); Stuart de Carvalhais (1887-1961); Amadeo de Sousa Cardoso (1887-1918), entre outros, tornam a visita imperdível.

De qualquer das formas o caminho agora faz-se através dos jardins da Fundação, de lado a lado e até à saída lateral com a Rua Marquês de Sá da Bandeira e daí pela esquerda até ao cruzamento com a Rua Elias Garcia. O prédio gaveto (376) aponta-nos o caminho através desta última (377) e depois pela Poeta Mistral. Todo este quarteirão mantém intacta a estética modernista e serve de acesso para a Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Fátima (387), entrada pela Av. Marquês de Tomar, templo a ser inaugurado em 1938 e saído do risco de Pardal Monteiro. Foi a primeira igreja a ser construída fora dos cânones tradicionais da arquitectura religiosa. Os vitrais são de Almada Negreiros e as estátuas de S. João Baptista (sobre a pia baptismal), Nossa Srª de Fátima (sobre o altar mor) e da Ressurreição de Lázaro (casa mortuária) de Leopoldo de Almeida. Foi prémio Valmor de 1938.

O percurso prossegue pela Av. de Berna pela direita, até à 5 de Outubro e depois nesta pela esquerda até ao nº 209 (390), denominado prédio de Félix Ribeiro Lopes, em estilo Deco de 1929 e do traço de Pardal Monteiro. Foi prémio Valmor do mesmo ano.
Retrocedendo pela 5 de Outubro vamos virar novamente na Av. de Berna mas desta vez à esquerda. Os nºs 4 e 6 (396) são dois prédios de linhas Deco a merecer referência. Depois viramos na Av. da República (exemplo da forma como o progresso urbanístico não deve ser escrito) pela direita. O nº 71 (399) merece destaque, assim como prédio gaveto com a Elias Garcia (402). O magnífico prédio contíguo, nº 67 da Elias Garcia (403) encontra-se num avançado estado de decomposição.

A República leva-nos novamente a um prémio Valmor, o nº 49 (408), denominado prédio de Luís Rau (408), de 1923, do risco de Pardal Monteiro. Mais à frente no nº 15 A, paragem obrigatória na pastelaria Versailles, inaugurada em 1923 e a manter imaculado todo o glamour decorativo original Arte Nova. A qualidade do serviço também é altamente recomendável.

O percurso continua até à Praça do Duque de Saldanha, aparente paradoxo de praça que o não é, inútil espaço devotado aos automóveis e aos seu estacionamento e ainda palco de uma das grandes carnificinas urbanísticas realizadas em Lisboa: a demolição em 1984, do antigo edifício Monumental, do princípio da década de 50, de Raul Rodrigues Lima. O substituto é um paralelepípedo feito de vidro e mágoa.

A Av. Praia da Vitória apresenta dois prédios modernistas gémeos, ambos gavetos com a Rua de Picoas e a Av. 5 de Outubro (418), a merecerem um olhar. Do outro lado da Praça, o itinerário continua pela Av. Casal Ribeiro. O gaveto com a Fernão Lopes, nº 61 (570) é um prédio de estética Deco algo conservadora, mas nem por isso menos interessante; o 31 da Actor Taborda é de mencionar; o 26 (568) da Casal Ribeiro é um virtuoso modernista (Cassiano Branco?), infelizmente algo descaracterizado pela praga das marquises; o 16 (572) é um modernista suave, prémio Valmor 1946 e da autoria de Fernando Silva. Os nºs 1, 3, 5 (todos em mau estado), 11 e 15 (este condenado), da Almirante Barroso, servem uma pincelada modernista neste canto da cidade.

Do Largo da Estefânia para a rua homónima, cuja toponímia homenageia Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringem, rainha consorte, mulher de D. Pedro V, e até à Praça Ilha do Faial nº 2 (66), prédio singular atribuído a Cassiano Branco (?). Depois primeira à direita na Av. Duque de Ávila até ao prédio gaveto (434) entre a Visconde de Santarém e a Rovisco Pais. Ambas apresentam um conjunto interessante de prédios modernistas ainda que alguns em má forma. A destacar o 18 (426) e o 22, da Rovisco Pais, ambos de 1933, de Cassiano Branco.

Retrocedemos pela Duque de Ávila até à Defensores de Chaves e pelo percurso de notar o prédio contemporâneo de gaveto entre aquela e a Estefânia, Edifício Milénio, de 2000,(Óscar Vida imobiliária 2001) e com azulejos de fachada da autoria de Leonel Moura, homenagem clara a Cassiano Branco, mesmo antes de olharmos um original de 1937, no nº 27 (61) da Defensores de Chaves.

Da Palma à Alameda

Este itinerário é um dos mais interessantes a percorrer, sobretudo devido à quase absoluta integridade arquitectónica encontrada ao longo de todo o percurso. Permite compreender a forma como Lisboa era pensada e construída nas décadas 20/30 do século passado. Alguns dos bairros percorridos encontram-se limpos de aberrações imobiliárias, facto notável em Lisboa. O eléctrico 28 (Prazeres – Martim Moniz), é a opção recomendada de deslocação para o início do pecurso.

Este percurso tem início na Rua da Palma logo após o Martim Moniz. Os nºs 159 (40), 177 (41) merecem olhar atento, mas o destaque vai para a “Garagem Liz”, 265 a 281 (42). Este edifício construído em 1933, da autoria do arqº Hermínio Barros, é um exemplar modernista de influência Deco, com a particularidade de casar a tipologia de garagem com a comercial. Está classificado como IIP pelo IPPAR. Forma com os prédios contíguos da Calçada do Desterro (288), um interessante conjunto modernista, principalmente os nºs 3, 5 e 11 (284), de 1935, da autoria de Cassiano Branco.

Subimos a Calçada do Desterro e em continuação de subida, a S. Lázaro até à Rua Nova do Desterro. Os prédios 29 a 31 merecem um olhar, mas é sobre o nº 7 (276) que as atenções recaem: prédio de 1935, de Cassiano Branco.

O caminho até à Av. Almirante Reis realiza-se descendo a Rua Nova do Desterro. O nº 31 (43), no gaveto superior com a Rua do Anjos, formava com o nº 20, antigo cinema Lys, de 1930 e gaveto inferior com a mesma rua, um conjunto notável de equilíbrio e elegância urbana. Lamentavelmente as obras (?) feitas neste último deixaram-no a ponto de qualquer reconhecimento.

O percurso sobre a Almirante Reis faz-se até à Igreja dos Anjos, terceiro quarteirão à direita, e deixamo-la pela Rua Álvaro Coutinho e logo à esquerda na Rua Palmira. Entrámos na fronteira de dois bairros contíguos, o Bº dos Andrades, construído no princípio do século passado nos terrenos de Manuel Pereira de Andrade (os nomes das ruas provêm das mulheres da família Andrade) e o Bº das Colónias, construído na década de 30 do mesmo século, no então designado Sítio da Charca. Este último mantém toda a sua originalidade e é por essa razão que recomendamos um olhar atento: são mais de 500 prédios todos de sentido modernista, distribuídos por nove ruas e uma praça (a toponímia advém das antigas colónias) que transformam este bairro no maior e mais bem preservado acervo urbano do género em Lisboa.

Mas voltemos à Rua Palmira, os prédios nº 33 (45) e 35, são de Cassiano Branco e datados de 1936. Neste último, 35 C, está hospedado o “Hospital dos Candeeiros”, loja com vários candeeiros Art Deco restaurados. O 66 é um curioso prédio de gaveto com a Rua Forno do Tijolo (542), artéria que devemos dobrar à direita e com motivos de interesse: o nº 28 (46), majestoso prédio de gaveto com a Rua de Moçambique, o 20 (544), gaveto com a Rua de Timor e o 19 (545) ainda gaveto com a Maria Andrade. Nesta intersecção de artérias sem esquinas devemos virar à esquerda e aqui a opção é difícil. Ambas as ruas, Timor e Macau, merecem passeio como aliás todas as outras ruas do bairro. Optámos pela de Macau para percorrermos todo o perímetro. Destaque para o nº 14 (549), Cassiano Branco (?).

Esquerda novamente na Rua de Cabo Verde. Destaque para o conjunto de prédios, 14 ao 24, (550), de três pisos que se prolonga até final da rua. Depois pela Rua do Príncipe até à Praça das Novas Nações, epicentro do bairro. Um olhar ao gaveto entre as ruas do Príncipe e de S. Tomé e viramos à direita na rua de Moçambique (551). O nº 23 é uma padaria que manteve a decoração original Deco e por isso visita obrigatória.

O percurso prossegue pela esquerda na Rua da Guiné e novamente à esquerda na Rua do Zaire. Destaque para o nº 8 (554) e ainda para o prédio gaveto, mais um, com a Rua do Forno do Tijolo, o nº 50 (541). Continuamos por esta rua mas agora em sentido descendente até ao cruzamento com a Rua de Angola, destaque para o prédio gaveto (o último) desta com a Rua da Guiné (540). Antes de sairmos do bairro de notar que todos os candeeiros de rua existentes permanecem fiéis à época.

Descendo a Rua de Angola, atravessamos a Av. Almirante Reis e continuamos do outro lado pela Febo Moniz. Em frente o Largo de Stª Bárbara e o nº 4 (298) a merecer atenção. Direita na Francisco Ribeiro até à António Pedro, rua modernista com destaques nos nºs 12 (301) e 25 (300) de 1935, do cunho de Cassiano Branco. Esquerda na Rua Marques de Silva, direita na de Arroios até à Pascoal de Melo e depois esquerda na Passos Manuel que com a José Estêvão delimita o Jardim Constantino, conhecedor de melhores dias, assim denominado em homenagem a Constantino José Sampaio e Melo, florista de génio do final do século 19. A Rua do Mindelo que une as anteriores, possui dois gémeos modernistas em nºs que não lhe pertencem: o nº 101 da Passos Manuel (292) e o 88 da José Estêvão (294). O 117 (295), desta última também é digno de registo. A Rua Alexandre Braga é uma rua modernista a precisar de cuidados.

Voltamos à Pascoal de Melo pela direita até à Almirante Reis e depois à esquerda até à Praça do Chile, bela praça modernista a necessitar de uma limpeza facial. Até à Alameda a Av. Almirante Reis apresenta um conjunto interessante de prédios entre Deco e modernistas, em sequência no passeio esquerdo e nem por isso no direito. Destaque para o nº162 (47), prédio ainda com influências clássicas e representante de um período de transição estética.

Na Alameda o antigo Cinema Império (48) hoje templo religioso, representa o epílogo de toda uma estética. Foi um dos últimos edifícios construídos em Lisboa a corroborar a linguagem plástica modernista, quiçá o último. Inaugurou em 1952 e tem a assinatura de Cassiano Branco. No piso térreo o Café Império, instituição lisboeta, e local auspicioso para uma paragem. A admirar o painel cerâmico de Jorge Barradas a decorar toda a parede do restaurante. Está classificado como IPP pelo IPPAR. Ainda um olhar derradeiro ao nº38 (49) da Alameda imediatamente ao lado do Império e no gaveto com a Quirino da Fonseca. Proponha-se a uma espreitadela para dentro da entrada do prédio e particularmente aos painéis cerâmicos existentes (Jorge Barradas?).