segunda-feira, 24 de maio de 2010

Cottinelli Telmo

José Ângelo Cottinelli Telmo nasceu em Lisboa a 13 de Novembro de 1897.

Tornou-se uma das personagens mais ecléticas do seu tempo, traçando caminhos em áreas tão variadas como a arquitectura, o cinema, a banda desenhada, a fotografia e a música.

Frequentou o Liceu Pedro Nunes e completou o curso de arquitectura em 1920, na Escola de Belas Artes de Lisboa.

Ainda estudante em 1918, colaborou com Leitão de Barros, seu cunhado, na produção dos filmes “Mal de Espanha” e “Malmequer”. Foi co-fundador da Tóbis em 1932 e aí realizou em 1933 o filme “A Canção de Lisboa”, com Vasco Santana, Beatriz Costa e António Silva, primeira longa-metragem sonora produzida em Portugal, e que se tornaria um modelo para os cineastas de então.
Enquanto arquitecto e ainda em 1922, no início da careira, realiza o Pavilhão de Honra da Exposição de Rio de Janeiro. No ano seguinte entra para a CP e durante 25 anos de carreira, projectou vários edifícios ferroviários, tendo deixado uma marca indelével na paisagem portuguesa. Foi o arquitecto – chefe da Exposição do Mundo Português de 1940, tendo projectado a Fonte Monumental, o Plano da Praça do Império e a zona Marginal de Belém. Foi ainda director da revista Arquitectos de 1938 a 1942.

Faleceu em Cascais, a 18 de Setembro de 1948, vítima de um acidente marítimo.
As suas obras de referência são:

          - Pavilhão de Honra da Exposição do Rio de Janeiro, (1922);
          - Estação de Sul e Sueste, Lisboa (1931);
          - Estúdios da Tóbis ao Lumiar, Lisboa (1932);
          - Arquitecto – chefe da Exposição do Mundo Português, Lisboa (1940);
          - Praça do Império e Zona Marginal de Belém, Lisboa (1941);
          - Padrão dos Descobrimentos em colaboração com Leopoldo de Almeida;
          - Edifício da Standart Electric, Lisboa (1948).

Jorge Segurado (1898 – 1990)

Nasceu em Lisboa em 1898. Licenciou-se em arquitectura na Escola de Belas Artes de Lisboa, onde foi colega de outros vultos maiores da arquitectura modernista portuguesa.

Casa da Moeda (1941), Arq. Jorge Segurado
Foi o arquitecto da Casa da Moeda (1941) uma das obras maiores do modernismo arquitectónico português. Em 1931 viajou para Berlim, onde se reuniu ao seu amigo e artista plástico Mário Eloy. Juntos passaram temporada larga na capital alemã, onde este último mantinha residência, e foram passageiros de tempos que iriam mudar a Europa e o Mundo.

Produziu vasta obra arquitectónica e literária. As suas obras de maior nomeada são:               

    * Companhia dos Eléctricos, Lisboa (1927);
    * Projecto do Liceu Dª Filipa de Lencastre, Lisboa (1931);
    * Casa da Moeda, Lisboa (1941);
    * Estúdios da Tóbis Portuguesa, Lisboa (1944);
    * Os quatro Blocos de Habitação Colectiva no cruzamento da Av. EUA e Roma, Lisboa, (1958);
    * Blocos Habitacionais do Montepio na Av. do Brasil, Lisboa (1958)

Pardal Monteiro (1897 - 1957)

Porfírio Pardal Monteiro nasceu em 1897 em Pêro Pinheiro, Sintra.

Licenciou-se em Arquitectura na Escola Superior de Belas Artes e privou com o conjunto de futuros arquitectos que viriam a renovar o cenário urbano português.

O tirocínio com Miguel Ventura Terra (1868 – 1919) e o enquadramento desde jovem como docente no Instituto Superior Técnico, legitimam uma formação de cariz conservadora, no entanto não suficiente para contaminar as suas convicções vanguardistas, particularmente o apreço pela estética Art Deco.

Correspondente da revista de referência Architecture d’Aujourd’hui, nela publicou parte da obra modernista realizada em Lisboa, nomeadamente a referente ao novo Instituto superior Técnico.

Faleceu em Lisboa em 1957 de doença grave.

Foi um dos arquitectos mais importantes do modernismo português e deixou obra vasta e de vulto. Citamos apenas os edifícios mais marcantes:

  • Prédio Luís Rau, Lisboa (Prémio Valmor 1923);
  • Palacete Val Flor, Lisboa (Prémio Valmor 1928), já desaparecido;
  • Prédio de Félix Lopes Ribeiro, Lisboa (Prémio Valmor 1929);
  • Estação do Cais do Sodré, Lisboa (1928);
  • Instituto Superior Técnico, Lisboa (1935);
  • Instituto Nacional de Estatística, Lisboa (1935);
  • Monumento ao Presidente José de Almeida em colaboração com o escultor    
  • Leopoldo de Almeida, Lisboa (1937),
  • Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, Lisboa (Prémio Valmor 1938);
  • Edifício do Diário de Notícias, Lisboa (Prémio Valmor 1940);
  • Gare Marítima de Alcântara, Lisboa (1943);
  • Gare Marítima da Rocha Conde de Óbidos, Lisboa (1948);
  • Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Lisboa (1952);
  • Faculdade de Direito de Lisboa (1957);
  • Faculdade de Letras de Lisboa (1958);
  • Hotel Ritz, Lisboa (1957);
  • Reitoria da Universidade de Lisboa (1961).

Cristino da Silva (1896 – 1976)

Luís Cristino da Silva nasce em Lisboa em 1896, filho e neto de artistas plásticos, nomeadamente do pintor romântico João Ribeiro Cristino da Silva.

Conclui a licenciatura em Arquitectura na escola de Belas Artes de Lisboa em 1919 e no mesmo ano parte para Roma. Em 1920 fixa-se em Paris e estuda como bolseiro, nos ateliers de Leon Ázema e Laloux.

Regressa a Lisboa em 1925 e realiza a apresentação dos seus projectos parisienses na Sociedade Nacional de Belas Artes. No mesmo ano reflexo do acolhimento crítico das suas ideias vanguardistas, desenha o cinema Capitólio, referência paradigmática do modernismo português.
A partir de 1932, sob a acção de Duarte Pacheco, então ministro das obras públicas, concebeu projectos de grande envergadura. Mais tarde com o projecto do Liceu de Beja estabeleceu o marco do funcionalismo conceptual da arquitectura portuguesa dos anos 30, infelizmente inconsequente do ponto de vista da produção de equipamentos similares.

 Foi ainda durante a sua longa carreira profissional, primeiro professor e depois director da Escola de Belas Artes de Lisboa. Algumas das referências principais da sua vasta obra:

  •   Casa Bellard da Costa, Lisboa (1930);
  •   Cinema Capitólio, Lisboa (1931);
  •   Café Portugal, Lisboa (1932), lamentavelmente desaparecido;
  •   Liceu de Beja (1937);
  •   Malha urbana envolvente da Praça do Areeiro, Lisboa (1938/49);
  •   Pavilhão de Honra e de Lisboa da Exposição do Mundo Português (1940);
  •   Arquitecto chefe da Cidade Universitária de Coimbra (1948).

Cassiano Branco (1897 – 1970)

Cassiano Viriato Branco nasceu em Lisboa na freguesia da Sé. Durante a escola primária conhece o futuro engenheiro Joaquim Ávila do Amaral, com quem no futuro, colaboraria em diversos projectos.

Casou aos 20 anos com Maria Elisa Soares Branco e dois anos mais tarde entra no curso de Arquitectura da Escola de Belas Artes de Lisboa. Aqui conheceu e privou com os maiores nomes da arquitectura portuguesa do seu tempo, aqueles que anos mais tarde escreveram o modernismo nas ruas e praças de Portugal: Pardal Monteiro, Jorge Segurado, Cristino da Silva, Carlos Ramos e Cottinelli Telmo Em 1925 e antes de concluir a licenciatura, viaja pela França, Bélgica, Holanda e Inglaterra e assiste em Paris no mesmo ano, à Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas, epicentro do Art Déco, e que o viria a influenciar decisivamente. Regressa a Lisboa e conclui a licenciatura em Arquitectura em 1926.

Homem de espírito livre e irreverente, atravessou a vida profissional em permanente curto-circuito com o poder instituído. São conhecidas as suas divergências com Duarte Pacheco, edil lisboeta e Ministro das Obras Púbicas, e por isso poucas das anteriores levam o seu traço. Isto não o impediu de ser provavelmente, a personalidade mais marcante e inovadora do modernismo português e assim por aquele motivo, Lisboa pode contar com um conjunto vasto de prédios de concepção arquitectónica vanguardista com a sua assinatura, que influenciaram decididamente a arquitectura urbana corrente do seu tempo.

Em 1958 é detido pela PIDE por apoiar a candidatura do general Humberto Delgado.

Morre em Lisboa em 1970.

A sua obra é vasta principalmente a de carácter urbano residencial e o seu período mais prolífico e interessante na perspectiva modernista, corresponde ao intervalo 1932 – 1938. Nos Itinerários Modernistas vários são os prédios de rendimento mencionados. Aqui destacaremos apenas as suas obras mais paradigmáticas, a saber:
  • Projecto do Cinema Éden, Lisboa (1931/32);
  • Moradias na Av. António José de Almeida, Lisboa (1933);
  • Hotel Vitória, Lisboa (1934);
  • Coliseu do Porto (1941);
  • Hotel Britania, Lisboa (1943);
  • Cinema Império, Lisboa (1947);
  • Portugal dos Pequeninos, Coimbra (1949);
  • Cinema Império, Lisboa (1952).

Do Bairro Azul ao Saldanha

Este é um percurso que atravessa algumas das zonas mais nobres de Lisboa e em consequência permite um olhar sobre alguns dos prédios de rendimento modernistas mais belos e interessantes. A deslocação para o início do percurso pode ser realizada por metropolitano; estação de S. Sebastião, linha amarela.

E tudo começa na Av. Marquês da Fronteira, uma das portas de entrada do Bairro Azul, construído nos anos 30 nos terrenos da antiga Quinta de Palhavã, por iniciativa do promotor Bernardino Lopes em associação com os engºs Jacinto Bettencourt e Joaquim Ávila do Amaral. A estética adoptada aproximou-se mais da sintaxe Deco conservadora (116), tão ao gosto deste último, e menos do estilo modernista radical protagonizado por Cassiano Branco.

O bairro vive em três ruas e em cada uma delas a frente é marcada pelos dois prédios gaveto (206, 207), imponentes na representação de pórticos de entrada sobre a Marquês da Fronteira e a António Augusto de Aguiar. Os prédios são todos diferentes entre si e os planos de fachada são utilizados como telas, onde a geometria Deco encontra lugar para se expressar.

É um dos poucos bairros modernistas lisboetas sem mácula patrimonial e sem dúvida o mais eclético, mas lamentavelmente nos últimos anos, tem vindo a ser transformado em via de acesso a vastos equipamentos públicos e privados, causando-lhe uma natural descaracterização. Encontra-se em vias de classificação para Imóvel de Interesse Municipal pelo IPPAR. O conjunto de prédios abrangido por esta classificação é os da Rua Fialho de Almeida 1 a 17 e 2 a 30; Av. Ressano Garcia 1 a 37 e 2 a 30; Av. Ramalho Ortigão 1 a 37 e 2 a 18; Av. Marquês da Fronteira 2 a 8; Av. António Augusto de Aguiar 163 a 207.

O percurso pode iniciar-se pela Fialho de Almeida a artéria mais a sul e realizar-se em serpentina. Destaque para o nº 15 (208) desta última, datado de 1937 e da autoria de Cassiano Branco; os nºs 25 (212) de 1934, do mesmo autor e o 16 (216) ambos na Ressano Garcia; o nº 191 (368) da António Augusto de Aguiar.

O Café dos Poetas, na Fialho de Almeida 32 A, é uma boa solução para um café e nota final, a Nobel poetisa chilena Gabriela Mistral residiu na Ramalho Ortigão, 11, de 1935 a 39, enquanto cônsul em Lisboa. Escreveu um livro e contou que ali foi feliz.

De saída do bairro pela António Augusto de Aguiar e do outro lado da avenida encontra-se o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian. A colecção de modernistas portugueses é notável e a melhor do género. Jorge Barradas (1847-1971); José de Almada Negreiros (1893-1970); Sarah Afonso (1899-1983); Mário Eloy (1900-1983); Stuart de Carvalhais (1887-1961); Amadeo de Sousa Cardoso (1887-1918), entre outros, tornam a visita imperdível.

De qualquer das formas o caminho agora faz-se através dos jardins da Fundação, de lado a lado e até à saída lateral com a Rua Marquês de Sá da Bandeira e daí pela esquerda até ao cruzamento com a Rua Elias Garcia. O prédio gaveto (376) aponta-nos o caminho através desta última (377) e depois pela Poeta Mistral. Todo este quarteirão mantém intacta a estética modernista e serve de acesso para a Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Fátima (387), entrada pela Av. Marquês de Tomar, templo a ser inaugurado em 1938 e saído do risco de Pardal Monteiro. Foi a primeira igreja a ser construída fora dos cânones tradicionais da arquitectura religiosa. Os vitrais são de Almada Negreiros e as estátuas de S. João Baptista (sobre a pia baptismal), Nossa Srª de Fátima (sobre o altar mor) e da Ressurreição de Lázaro (casa mortuária) de Leopoldo de Almeida. Foi prémio Valmor de 1938.

O percurso prossegue pela Av. de Berna pela direita, até à 5 de Outubro e depois nesta pela esquerda até ao nº 209 (390), denominado prédio de Félix Ribeiro Lopes, em estilo Deco de 1929 e do traço de Pardal Monteiro. Foi prémio Valmor do mesmo ano.
Retrocedendo pela 5 de Outubro vamos virar novamente na Av. de Berna mas desta vez à esquerda. Os nºs 4 e 6 (396) são dois prédios de linhas Deco a merecer referência. Depois viramos na Av. da República (exemplo da forma como o progresso urbanístico não deve ser escrito) pela direita. O nº 71 (399) merece destaque, assim como prédio gaveto com a Elias Garcia (402). O magnífico prédio contíguo, nº 67 da Elias Garcia (403) encontra-se num avançado estado de decomposição.

A República leva-nos novamente a um prémio Valmor, o nº 49 (408), denominado prédio de Luís Rau (408), de 1923, do risco de Pardal Monteiro. Mais à frente no nº 15 A, paragem obrigatória na pastelaria Versailles, inaugurada em 1923 e a manter imaculado todo o glamour decorativo original Arte Nova. A qualidade do serviço também é altamente recomendável.

O percurso continua até à Praça do Duque de Saldanha, aparente paradoxo de praça que o não é, inútil espaço devotado aos automóveis e aos seu estacionamento e ainda palco de uma das grandes carnificinas urbanísticas realizadas em Lisboa: a demolição em 1984, do antigo edifício Monumental, do princípio da década de 50, de Raul Rodrigues Lima. O substituto é um paralelepípedo feito de vidro e mágoa.

A Av. Praia da Vitória apresenta dois prédios modernistas gémeos, ambos gavetos com a Rua de Picoas e a Av. 5 de Outubro (418), a merecerem um olhar. Do outro lado da Praça, o itinerário continua pela Av. Casal Ribeiro. O gaveto com a Fernão Lopes, nº 61 (570) é um prédio de estética Deco algo conservadora, mas nem por isso menos interessante; o 31 da Actor Taborda é de mencionar; o 26 (568) da Casal Ribeiro é um virtuoso modernista (Cassiano Branco?), infelizmente algo descaracterizado pela praga das marquises; o 16 (572) é um modernista suave, prémio Valmor 1946 e da autoria de Fernando Silva. Os nºs 1, 3, 5 (todos em mau estado), 11 e 15 (este condenado), da Almirante Barroso, servem uma pincelada modernista neste canto da cidade.

Do Largo da Estefânia para a rua homónima, cuja toponímia homenageia Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringem, rainha consorte, mulher de D. Pedro V, e até à Praça Ilha do Faial nº 2 (66), prédio singular atribuído a Cassiano Branco (?). Depois primeira à direita na Av. Duque de Ávila até ao prédio gaveto (434) entre a Visconde de Santarém e a Rovisco Pais. Ambas apresentam um conjunto interessante de prédios modernistas ainda que alguns em má forma. A destacar o 18 (426) e o 22, da Rovisco Pais, ambos de 1933, de Cassiano Branco.

Retrocedemos pela Duque de Ávila até à Defensores de Chaves e pelo percurso de notar o prédio contemporâneo de gaveto entre aquela e a Estefânia, Edifício Milénio, de 2000,(Óscar Vida imobiliária 2001) e com azulejos de fachada da autoria de Leonel Moura, homenagem clara a Cassiano Branco, mesmo antes de olharmos um original de 1937, no nº 27 (61) da Defensores de Chaves.

Da Palma à Alameda

Este itinerário é um dos mais interessantes a percorrer, sobretudo devido à quase absoluta integridade arquitectónica encontrada ao longo de todo o percurso. Permite compreender a forma como Lisboa era pensada e construída nas décadas 20/30 do século passado. Alguns dos bairros percorridos encontram-se limpos de aberrações imobiliárias, facto notável em Lisboa. O eléctrico 28 (Prazeres – Martim Moniz), é a opção recomendada de deslocação para o início do pecurso.

Este percurso tem início na Rua da Palma logo após o Martim Moniz. Os nºs 159 (40), 177 (41) merecem olhar atento, mas o destaque vai para a “Garagem Liz”, 265 a 281 (42). Este edifício construído em 1933, da autoria do arqº Hermínio Barros, é um exemplar modernista de influência Deco, com a particularidade de casar a tipologia de garagem com a comercial. Está classificado como IIP pelo IPPAR. Forma com os prédios contíguos da Calçada do Desterro (288), um interessante conjunto modernista, principalmente os nºs 3, 5 e 11 (284), de 1935, da autoria de Cassiano Branco.

Subimos a Calçada do Desterro e em continuação de subida, a S. Lázaro até à Rua Nova do Desterro. Os prédios 29 a 31 merecem um olhar, mas é sobre o nº 7 (276) que as atenções recaem: prédio de 1935, de Cassiano Branco.

O caminho até à Av. Almirante Reis realiza-se descendo a Rua Nova do Desterro. O nº 31 (43), no gaveto superior com a Rua do Anjos, formava com o nº 20, antigo cinema Lys, de 1930 e gaveto inferior com a mesma rua, um conjunto notável de equilíbrio e elegância urbana. Lamentavelmente as obras (?) feitas neste último deixaram-no a ponto de qualquer reconhecimento.

O percurso sobre a Almirante Reis faz-se até à Igreja dos Anjos, terceiro quarteirão à direita, e deixamo-la pela Rua Álvaro Coutinho e logo à esquerda na Rua Palmira. Entrámos na fronteira de dois bairros contíguos, o Bº dos Andrades, construído no princípio do século passado nos terrenos de Manuel Pereira de Andrade (os nomes das ruas provêm das mulheres da família Andrade) e o Bº das Colónias, construído na década de 30 do mesmo século, no então designado Sítio da Charca. Este último mantém toda a sua originalidade e é por essa razão que recomendamos um olhar atento: são mais de 500 prédios todos de sentido modernista, distribuídos por nove ruas e uma praça (a toponímia advém das antigas colónias) que transformam este bairro no maior e mais bem preservado acervo urbano do género em Lisboa.

Mas voltemos à Rua Palmira, os prédios nº 33 (45) e 35, são de Cassiano Branco e datados de 1936. Neste último, 35 C, está hospedado o “Hospital dos Candeeiros”, loja com vários candeeiros Art Deco restaurados. O 66 é um curioso prédio de gaveto com a Rua Forno do Tijolo (542), artéria que devemos dobrar à direita e com motivos de interesse: o nº 28 (46), majestoso prédio de gaveto com a Rua de Moçambique, o 20 (544), gaveto com a Rua de Timor e o 19 (545) ainda gaveto com a Maria Andrade. Nesta intersecção de artérias sem esquinas devemos virar à esquerda e aqui a opção é difícil. Ambas as ruas, Timor e Macau, merecem passeio como aliás todas as outras ruas do bairro. Optámos pela de Macau para percorrermos todo o perímetro. Destaque para o nº 14 (549), Cassiano Branco (?).

Esquerda novamente na Rua de Cabo Verde. Destaque para o conjunto de prédios, 14 ao 24, (550), de três pisos que se prolonga até final da rua. Depois pela Rua do Príncipe até à Praça das Novas Nações, epicentro do bairro. Um olhar ao gaveto entre as ruas do Príncipe e de S. Tomé e viramos à direita na rua de Moçambique (551). O nº 23 é uma padaria que manteve a decoração original Deco e por isso visita obrigatória.

O percurso prossegue pela esquerda na Rua da Guiné e novamente à esquerda na Rua do Zaire. Destaque para o nº 8 (554) e ainda para o prédio gaveto, mais um, com a Rua do Forno do Tijolo, o nº 50 (541). Continuamos por esta rua mas agora em sentido descendente até ao cruzamento com a Rua de Angola, destaque para o prédio gaveto (o último) desta com a Rua da Guiné (540). Antes de sairmos do bairro de notar que todos os candeeiros de rua existentes permanecem fiéis à época.

Descendo a Rua de Angola, atravessamos a Av. Almirante Reis e continuamos do outro lado pela Febo Moniz. Em frente o Largo de Stª Bárbara e o nº 4 (298) a merecer atenção. Direita na Francisco Ribeiro até à António Pedro, rua modernista com destaques nos nºs 12 (301) e 25 (300) de 1935, do cunho de Cassiano Branco. Esquerda na Rua Marques de Silva, direita na de Arroios até à Pascoal de Melo e depois esquerda na Passos Manuel que com a José Estêvão delimita o Jardim Constantino, conhecedor de melhores dias, assim denominado em homenagem a Constantino José Sampaio e Melo, florista de génio do final do século 19. A Rua do Mindelo que une as anteriores, possui dois gémeos modernistas em nºs que não lhe pertencem: o nº 101 da Passos Manuel (292) e o 88 da José Estêvão (294). O 117 (295), desta última também é digno de registo. A Rua Alexandre Braga é uma rua modernista a precisar de cuidados.

Voltamos à Pascoal de Melo pela direita até à Almirante Reis e depois à esquerda até à Praça do Chile, bela praça modernista a necessitar de uma limpeza facial. Até à Alameda a Av. Almirante Reis apresenta um conjunto interessante de prédios entre Deco e modernistas, em sequência no passeio esquerdo e nem por isso no direito. Destaque para o nº162 (47), prédio ainda com influências clássicas e representante de um período de transição estética.

Na Alameda o antigo Cinema Império (48) hoje templo religioso, representa o epílogo de toda uma estética. Foi um dos últimos edifícios construídos em Lisboa a corroborar a linguagem plástica modernista, quiçá o último. Inaugurou em 1952 e tem a assinatura de Cassiano Branco. No piso térreo o Café Império, instituição lisboeta, e local auspicioso para uma paragem. A admirar o painel cerâmico de Jorge Barradas a decorar toda a parede do restaurante. Está classificado como IPP pelo IPPAR. Ainda um olhar derradeiro ao nº38 (49) da Alameda imediatamente ao lado do Império e no gaveto com a Quirino da Fonseca. Proponha-se a uma espreitadela para dentro da entrada do prédio e particularmente aos painéis cerâmicos existentes (Jorge Barradas?).

Do Rio ao Marquês

O nosso percurso começa na Av. Infante D. Henrique, perto da Praça do Comércio, na Estação Fluvial Sul e Sueste (foto), projecto de Cottinelli Telmo, de 1931, em vias de classificação pelo IPPAR. O percurso continua atravessando o vulgarmente conhecido “Campo das Cebolas”, praça notável e inútil enquanto estacionamento, cruzando a Rua da Alfândega e virando à esquerda na Rua dos Bacalhoeiros. Depois direita na Rua da Padaria que se transforma na Calçada do Correio Velho e finalmente segunda à esquerda na Rua de S. Mamede. O nº 17 A (foto) é um prédio de cariz modernista de Cassiano Branco, de 1933.

Descendo a S. Mamede caímos inevitavelmente na Madalena. Seguindo-a até ao final e virando à esquerda na Rua dos Condes de Monsanto, alcançamos a Praça da Figueira. Paragem obrigatória no 18 B/C, que mesmo não possuindo cariz modernista, é um regalo para a alma: falamos da Confeitaria Nacional, café fundado em 1829 por Baltazar Roiz Castanheiro.

No outro extremo da praça, pela esquerda, percorremos a Rua Dona Antão Vaz Almada, cruzamos o Largo de S. Domingos e sempre pela esquerda atingimos a Rua das Portas de S. Antão. A segunda rua à esquerda é a do Jardim do Regedor e o nº9 (598) guarda ainda uma memória de outras noites, o “Bristol Club”, famoso night-club de decoração modernista da autoria de Carlos Ramos, que ostentava no seu interior quadros de Almada Negreiros e Eduardo Viana e cujas famosas capas promocionais eram produzidas por Jorge Barradas e Emmérico Nunes.

No final da Rua Jardim do Regedor a Praça dos Restauradores e o antigo cinema Éden (596), hoje reconvertido em hotel (projecto de Frederico Valsassina) e considerado uma das obras modernistas mais emblemáticas de Cassiano Branco. Curiosamente e apesar de dois projectos sucessivos de sua autoria (1929 e 1931) a assinatura do projecto definitivo é de Carlos Dias (1933). A sala de espectáculos seria finalmente inaugurada em 1937. A sumptuosidade Deco do seu interior, hoje profundamente alterada, foi captada para a posteridade através do olhar cinéfilo de Wim Wenders (“Until the end of the World”). Está classificado Imóvel de Interesse Público pelo IPPAR .

Do Éden para o Parque Mayer são quatro quarteirões de distância pela esquerda e a entrada faz-se através da Rua do Salitre. O recinto de diversões entrou em decadência nos finais de 80 e com ele a primeira grande referência do modernismo nacional e obra mestra de Cristino da Silva, o “Capitólio” (251), sala de espectáculos inaugurada em 1931 e hoje um monumento à indigência imobiliária. Seleccionado  para a lista World Monuments Watch – 100 Most Endangered Sites em 2006. Classificado de IIP pelo IPPAR.

O nosso percurso prossegue através da Av. da Liberdade até ao nº 168 (252), antigo Hotel Vitória e hoje sede do Partido Comunista Português, de 1936, com projecto de Cassiano Branco e justamente apontada como a sua obra modernista mais paradigmática. Classificado como IIP pelo IPPAR.

Continuamos dobrando a primeira rua do nosso lado direito, Manuel de Jesus Coelho e depois à esquerda na Rodrigues Sampaio. Os nºs 15 (258), de 1938 e 17 (259), de 1943, são ambos da autoria de Cassiano Branco. Este último, Hotel Britania, merece uma visita atenta: a decoração original está preservada na íntegra e representa um dos acervos Deco mais interessantes de Lisboa. Na mesma rua ainda a destacar os nºs 50 (260) e 146 (534), de 1933, do cunho de Couto Martins. O nº 138 também possui cariz modernista.

Retrocedendo um pouco entramos à esquerda na Alexandre Herculano a tempo de apreciarmos os nºs 5 (533) e 7. Descendo a rua, dobramos à esquerda na de Stª Marta. Os nºs 53, 76, 78 e 88 (530), têm cunho modernista, sendo este último de Cassiano Branco, de 1935. No mesmo alinhamento, ainda que sobre a designação Largo do Andaluz mais dois prédios do mestre, os nºs 28 e 25, datados ambos de 1935.

Contornando o Largo do Andaluz pela direita entramos na Rua Luciano Cordeiro e seguimo-la até cairmos na Av. Duque de Loulé. O nº 73 (526) corresponde ao Hotel Embaixador e descendo a avenida, o nº 95 (525) tem a assinatura dos engºs Ávila do Amaral e Jacinto Robalo.

Para finalizarmos este percurso com chave de ouro resta-nos descer a Duque de Loulé até à Praça Marquês de Pombal. Contornando-a pela esquerda alcançamos a Av. da Liberdade. O nº 266 (263), foi prémio Valmor de 1940 e tem o cunho de Pardal Monteiro. É um edifício emblemático do modernismo português, influenciado pela sintaxe Deco e conta uma vez mais, com a colaboração de Almada Negreiros, quer na decoração da empena cega com mosaico cerâmico, quer  no interior com painéis alegóricos pintados a fresco. É classificado IIP pelo IPPAR.

Da Lapa ao Parque

Este é um itinerário de considerável extensão e provavelmente um dos mais interessantes percursos modernistas a realizar, quer pela qualidade arquitectónica dos prédios em evidência, quer pela malha urbana a percorrer. Recomendamos que a deslocação para o início do itinerário seja realizada através do eléctrico 28 (Martim Moniz – Prazeres), paragem Calçada da Estrela/Rua Borges Carneiro, considerado justamente o percurso de eléctrico mais bonito de Lisboa.

Começamos o nosso itinerário na Travessa de Santo Ildefonso com a Rua de Santo Amaro. O nº 2 (440) é um simples mas nem por isso menos curioso edifício de esquina. Na Rua da Imprensa à Estrela, segunda à direita para quem desce a Santo Amaro, o nº 25 (442) é um prédio de cariz modernista, Prémio Valmor 1942, projecto de António Maria dos Reis Camelo. Continuando pela mesma rua atingimos a Calçada da Estrela, viramos à esquerda e depois imediatamente à direita. O objectivo é o nº3 (443) da Almeida Brandão, prédio de Cassiano Branco (ver notas), de 1932. Subindo a Calçada da Estrela viramos na segunda rua à esquerda (Bela Vista à Lapa) e percorremo-la até ao final - Rua dos Navegantes. Viramos à direita e subimo-la até ao cruzamento com a Buenos Aires. Aqui (444) entre a S. Siro e a Navegantes encontra-se um prédio a merecer algum destaque.

Continuando pela Buenos Aires viramos na primeira à esquerda, Travessa dos Ferreiros e depois na Rua de Santana à direita. Ver os números 13, 15, 17 e 19. Voltamos pela Rua de Sant’ana à Lapa e percorremo-la até depois do cruzamento com a Buenos Aires. A destacar o nº 107 (451) e a referenciar os nºs 105 e 152.

O percurso continua pela Av. Infante Santo imediatamente à direita. Os números 348 até 372 e 263 até 355, formam um interessante conjunto modernista. Destaque para o nº 370 (73) e o nº 357 (67). No final da Infante Santo à esquerda, na Rua Domingos Sequeira nº 5ª A, tempo para uma pausa e apreciar a decoração Deco do “Café Lua Nova”. Em frente no nº 30 (32), morre de pé o antigo cinema Paris, de 1931, da autoria de Victor Manuel Piloto.

Cruzando o romântico Jardim da Estrela acabamos por encontrar a Avenida Álvares Cabral. O nº 102 (36) é um prédio Deco interessante, mas é mais à frente do lado esquerdo da avenida que a atenção fica cativa: os nº54 ao nº14 formam um conjunto modernista do qual os números 30, 34, 38, 42 (todos de 1935) e 40, 44, 46, 48, 14 (todos de 1936) estão atribuídos ao mestre Cassiano Branco. Parece-nos que o número 54 deve ser também de sua autoria (a estética é inconfundível), já que alguns dos seus prédios de rendimento tiveram assinatura de outrem devido aos atritos frequentes que o arquitecto manteve com a edilidade. O destaque vai para os números 34 (124), 46 (81) e 54 (75). O lado direito da rua também não é de todo despiciendo: os números 47, 33 ao 37, 27 (descaracterizado), 25,13, 11 e 1, formam um conjunto de relevo, sobretudo os nºs 33 a 37 (78), o antigo Jardim Cinema e Salão de Jogos Monumental, hoje loja chinesa, datado de 1931, do arquitecto Raul Martins e o nº 13 (132).

No Largo do Rato dobramos imediatamente à direita – Rua de S. Bento e em seguida na primeira à esquerda – Rua do Arco de S. Mamede. O nº 4 (243) é um solitário e primordial prédio Deco recentemente restaurado. Contígua a antiga casa de Frederico Daupiás, imóvel que esteve em vias de ser classificado pelo IPPAR e que entretanto foi abandonado à sua sorte. A referenciar os nºs 20 e 22 A e a merecer destaque, para além do já mencionado 4, os nºs 93 e 95 ambos de 1935 e com a assinatura de Cassiano Branco. A rua paralela à esquerda, Rua Maestro Paulo de Freitas Branco, tem no nº 24 um outro prédio datado do mesmo ano e também do mesmo arquitecto.

Depois do Largo de S. Mamede, prosseguimos pela Rua Nova de S. Mamede. O quarteirão constituído por esta e pela Rua do Salitre é na nossa opinião, um dos mais emblemáticos do modernismo português. Os prédios de rendimento vão do nº 7 ao 35 e nº 74 (87) na Rua Nova de S. Mamede e do nº 165 ao 187 na Rua do Salitre. Destaque para os nºs 7 (145) de 1937 e 179 (137) de 1934, ambos com assinatura de Cassiano Branco e nºs 17 (88), 169 (155) de Pardal Monteiro.

Da Rua do Salitre e pela Rua do Vale do Pereiro cruzamos a Alexandre Herculano, viramos à direita na Braamcamp e imediatamente à esquerda na Rodrigo da Fonseca. Os nºs 52 a 58, 72 a 76 e 75 a 101 têm carácter modernista. A realçar os nºs 56 (515) e 76 (93) e o 101 A (165), ” Farmácia Gomes” (96,97) pelo seu interior Deco preservado. Um olhar atento ao seu interior é recomendável. Retrocedendo, viramos na Venceslau de Morais, rua modernista por excelência mas de 1 número só. A Rua de Artilharia 1 apresenta uma sequência de prédios entre Deco e modernista bastante interessante, nºs 6 a 48 (o nº 24 está descaracterizado), (99) e nºs 65 (devoluto) e 67. A destacar os nºs 18 (199), datado de 1934 e com o cunho de Cassiano Branco e ainda o nº 34.

Cruzando a Av. Joaquim António de Aguiar, o nosso percurso continua pela Artilharia 1. Os quarteirões delimitados por esta artéria, pela Marquês da Fronteira a Norte, pela Castilho a Este e pela Joaquim António de Aguiar a Sul, terão formado uma malha urbana de cunho modernista e que tem vindo a ser progressivamente descaracterizada. São 10 quarteirões que merecem um olhar atento. A ordem do percurso é irrelevante que não a qualidade dos prédios referenciados. A saber: os nºs 102, 116 e 118 (189) da Artilharia 1; do nº 121 ao 129 (518) e 133 da Av. Marquês de Fronteira; os nºs 1, 16 e 28 a 44 da D. Francisco Manuel de Melo, com destaque para os nºs 28 (185) e 30 (186), ambos com a chancela de Cassiano Branco de 1935; os nºs 3 a 15, 6, 20 e 42 da Padre António Vieira, com destaque para os nºs 3 (183) e 6, actualmente em processo de restauro (?), também de Cassiano Branco de 1936; os nºs 158, 182 a 192, 204, 210 e 212 e 103 () a 111, 127 a 135, 143, 149 a 155 da Rodrigo da Fonseca, com destaque para o nº 143 (184) de Cassiano Branco (?), os gémeos 188 e 190 (181) e o prédio gaveto com a Padre António Vieira (180); os nºs 26, 36 a 72 e 7 a 15 da Sampaio e Pina, com destaque para o 36 (522), algo degradado; os nºs 9 a 17 da Marquês de Subserra, conjunto algo monocórdico a realizar gavetos quer com a Artilharia 1, quer com a Rodrigo da Fonseca.

O regresso à Av. Joaquim António de Aguiar deve efectuar-se no cruzamento com a Artilharia 1, bem no seu final. A Av. mantém praticamente a estrutura modernista intacta, ainda que algumas descaracterizações tenham ocorrido. Em ordem decrescente, nºs 66 e 64 e 73 a 45, 39 a 33, 21, 13 a 5. Vários são os edifícios a realçar: nºs 7 e 9 (524) de 1933, dos engºs Ávila do Amaral e Jacinto Robalo, em avançado estado de degradação, o nº 21 (foto), o nº 33 (170) de 1935 de Ávila do Amaral, o nº 37 (523) de 1937 de Cassiano Branco (descaracterizado), o nº 39 (166) de 1941 de Norte Júnior e ainda o nº 64 (100), esplendoroso exemplar Deco.
Para terminar este itinerário guardámos o quarteirão da Rua Castilho, à direita de quem desce a Joaquim António de Aguiar. Os nºs 57, 59, 61, 63 (descaracterizado), 65 (168), 71, 86 e 90 mantém ainda viva a chama modernista.

Zona Ribeirinha (Av. da Índia)

Este percurso estende-se através da zona ribeirinha desde a Av. Da Índia até à Baixa. É por isso um percurso relativamente extenso ainda que realizável caminhando. A opção de chegada ao ponto de início é o eléctrico 15 (Algés – Praça de Figueira) outro clássico, que circula ao longo de todo o percurso.

O antigo edifício da Standard Electric sito na Av. da Índia entre a Praça das Indústrias e a Travessa da Galé  (entrada pela Rua da Junqueira) é o ponto inicial deste itinerário (236). O edifício agora sede da Orquestra Metropolitana de Lisboa, data de 1945 com projecto de Cottinelli Telmo (ver notas). Abriu recentemente as suas portas ao púbico em geral e aos melómanos em particular, numa iniciativa denominada “quintas-feiras perfeitas”, a realizar com carácter de periodicidade mensal numa dada quinta-feira, sempre pelas 18:00h.
Continuando no sentido da Praça do Comércio temos paragem obrigatória na doca de Stº Amaro. Encostado ao rio está o edifício da gare Marítima de Alcântara (239), datado de 1943 com projecto de Pardal Monteiro (ver notas). Destaque para os murais de Almada Negreiros no vestíbulo, colaboração que se estendeu a outros edifícios emblemáticos de Lisboa. Em vias de classificação pelo IPPAR.

A uma curta distância encontra-se o edifício Pedro Álvares Cabral (579). Sito na Av. de Brasília, avenida irmã da Av. da Índia, data do início dos anos 40 – projecto de João Simões Antunes - foi originariamente uma instalação industrial e está agora reconvertido no Museu do Oriente que acolhe o espólio da respectiva fundação. O projecto de reconversão esteve a cargo dos arquitectos Carrilho da Graça e Rui Francisco. Os baixos-relevos constantes da fachada são da autoria do escultor Barata Feyo. Recomendamos visita ao interior não só como exemplo de bem tratar o património, mas principalmente pela qualidade manifesta da colecção exposta.

Seguindo a margem do rio e a cerca de 500 m de distância a outra gare marítima – Rocha Conde de Óbidos (580) – com projecto de Pardal Monteiro de 1934, ainda que só tenha sido construída entre 1945 e 1948. Também aqui foi convocado José de Almada Negreiros para animar com murais as paredes do grande vestíbulo. Em vias de classificação pelo IPPAR.
Na Av. 24 de Julho, perto do Largo de Santos o nº68 F (582) recentemente restaurado e a operar como Pizzaria (“Maritaca”) merece destaque apropriado. Um pouco mais à frente no Largo de Santos e em frente ao jardim situa-se o antigo cinema Cinearte (585), hoje sede do Grupo de Teatro “A Barraca”. O edifício de estilo Art Deco é de 1940, com projecto de Rodrigues Lima e uma visita é aconselhável: o interior ainda guarda grande parte do decor de época. Classificado Imóvel de Interesse Público pelo IPPAR.

Atravessando o Largo de Santos atingimos o Largo Vitorino Damásio. No final viramos à esquerda na Av. D. Carlos I. Entramos de seguida na Calçada Marquês de Abrantes, Largo do Conde Barão, Rua da Boavista e Rua de S. Paulo sucessivamente, e nesta última viramos na segunda à direita – Travessa do Carvalho. O nº 23 (587), antigo edifício dos banhos públicos de S. Paulo é sede da Associação dos Arquitectos Portugueses, projecto dos arquitectos Manuel Graça Dias e Egas José Vieira, datado de 1994. O edifício de 1850, de sintaxe neoclássica não tem obviamente cunho modernista, mas a livraria alberga extensa bibliografia temática.

O nosso percurso continua pela Travessa do Carvalho, Praça de S. Paulo, Travessa da Ribeira Nova e Praça da Ribeira Nova até atingirmos a Av. 24 de Julho. Imediatamente antes da Praça Duque de Terceira, ao nosso lado direito está a Estação do Cais do Sodré (588), projecto de Pardal Monteiro de 1928.
 
O percurso continua pela Praça Duque da Terceira e através da Rua Bernardo Costa que naquela desagua. A Rua do Arsenal prolonga o percurso e atinge a Praça do Comércio. A primeira rua à direita – Rua Áurea (vulgo Rua do Ouro) - e o nº 234  (591) é o nosso destino. Edifício de 1921, construído para acolher a firma Barros & Leitão e que mais tarde serviu de sede à agência Havas, tem projecto de Carlos Ramos (ver notas) e é justamente considerado um dos edifícios primordiais do modernismo Português.

Na esquina com a Praça D. Pedro IV (vulgo Rossio) a Livraria Diário de Notícias ainda preserva os elementos modernistas de arquitectura comercial. Projecto de 1938, por Cristino da Silva (ver notas). O nº 30 (594) alberga o único edifício Art Deco da Praça, o Hotel Metrópole, construído em 1917 e reformado em 1933. O seu interior é puro esplendor Deco, aqui e ali mesclado com alguma coisa de Arte Nova. Recomenda-se uma subida ao lobby do Hotel (primeiro piso). E por falar em esplendor Deco, imediatamente ao lado situa-se o café Nicola (595), um dos mais antigos de Lisboa, reformado em 1929 por Joaquim Fonseca Albuquerque e que mantém até aos dias de hoje toda a integridade decorativa.

Uma nota de pesar para o que resta do Café Portugal, nº 56, projecto de Cristino da Silva de 1938, com peças escultórias de Leopoldo de Almeida, vitrais de Ricardo Leone e decoração a cargo de Jorge Barradas. A reconversão na antiga loja Valentim de Carvalho nos idos de 90, destruiu irremediavelmente todo este espólio decorativo.

Stº Amaro

O percurso tem como início a rua José Dias Coelho que nasce no Largo do Calvário. O eléctrico 15 (Pç Figueira-Algés) é a melhor forma de nos fazer chegar ao largo. Destaque para os números 11 (452), 19 e 21 (453). Mais à frente a rua desagua na calçada da Tapada que nos presenteia de imediato com um edifício público de carácter Deco – a creche Victor Manoel (455).

domingo, 23 de maio de 2010

Itinerário modernista ou os dias do Art Deco Português

Alonguei-me nesta confissão. Corri atrás do sentimento quando os meus motivos são bastante mais prosaicos. Desejo colocar em evidência  facetas do património urbano lisboeta que me parecem negligenciadas  ou carentes da atenção devida. Refiro-me concretamente à Art Deco e ao Modernismo em particular. O termo Art Deco de origem francesa (abreviação de arts décoratifs), refere-se a um estilo decorativo presente nas artes plásticas, aplicadas e arquitectura, no período compreendido entre as grandes guerras. O seu epicentro de notoriedade e designação teve origem na Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas, realizada em Paris em 1925.