segunda-feira, 24 de maio de 2010

Da Palma à Alameda

Este itinerário é um dos mais interessantes a percorrer, sobretudo devido à quase absoluta integridade arquitectónica encontrada ao longo de todo o percurso. Permite compreender a forma como Lisboa era pensada e construída nas décadas 20/30 do século passado. Alguns dos bairros percorridos encontram-se limpos de aberrações imobiliárias, facto notável em Lisboa. O eléctrico 28 (Prazeres – Martim Moniz), é a opção recomendada de deslocação para o início do pecurso.

Este percurso tem início na Rua da Palma logo após o Martim Moniz. Os nºs 159 (40), 177 (41) merecem olhar atento, mas o destaque vai para a “Garagem Liz”, 265 a 281 (42). Este edifício construído em 1933, da autoria do arqº Hermínio Barros, é um exemplar modernista de influência Deco, com a particularidade de casar a tipologia de garagem com a comercial. Está classificado como IIP pelo IPPAR. Forma com os prédios contíguos da Calçada do Desterro (288), um interessante conjunto modernista, principalmente os nºs 3, 5 e 11 (284), de 1935, da autoria de Cassiano Branco.

Subimos a Calçada do Desterro e em continuação de subida, a S. Lázaro até à Rua Nova do Desterro. Os prédios 29 a 31 merecem um olhar, mas é sobre o nº 7 (276) que as atenções recaem: prédio de 1935, de Cassiano Branco.

O caminho até à Av. Almirante Reis realiza-se descendo a Rua Nova do Desterro. O nº 31 (43), no gaveto superior com a Rua do Anjos, formava com o nº 20, antigo cinema Lys, de 1930 e gaveto inferior com a mesma rua, um conjunto notável de equilíbrio e elegância urbana. Lamentavelmente as obras (?) feitas neste último deixaram-no a ponto de qualquer reconhecimento.

O percurso sobre a Almirante Reis faz-se até à Igreja dos Anjos, terceiro quarteirão à direita, e deixamo-la pela Rua Álvaro Coutinho e logo à esquerda na Rua Palmira. Entrámos na fronteira de dois bairros contíguos, o Bº dos Andrades, construído no princípio do século passado nos terrenos de Manuel Pereira de Andrade (os nomes das ruas provêm das mulheres da família Andrade) e o Bº das Colónias, construído na década de 30 do mesmo século, no então designado Sítio da Charca. Este último mantém toda a sua originalidade e é por essa razão que recomendamos um olhar atento: são mais de 500 prédios todos de sentido modernista, distribuídos por nove ruas e uma praça (a toponímia advém das antigas colónias) que transformam este bairro no maior e mais bem preservado acervo urbano do género em Lisboa.

Mas voltemos à Rua Palmira, os prédios nº 33 (45) e 35, são de Cassiano Branco e datados de 1936. Neste último, 35 C, está hospedado o “Hospital dos Candeeiros”, loja com vários candeeiros Art Deco restaurados. O 66 é um curioso prédio de gaveto com a Rua Forno do Tijolo (542), artéria que devemos dobrar à direita e com motivos de interesse: o nº 28 (46), majestoso prédio de gaveto com a Rua de Moçambique, o 20 (544), gaveto com a Rua de Timor e o 19 (545) ainda gaveto com a Maria Andrade. Nesta intersecção de artérias sem esquinas devemos virar à esquerda e aqui a opção é difícil. Ambas as ruas, Timor e Macau, merecem passeio como aliás todas as outras ruas do bairro. Optámos pela de Macau para percorrermos todo o perímetro. Destaque para o nº 14 (549), Cassiano Branco (?).

Esquerda novamente na Rua de Cabo Verde. Destaque para o conjunto de prédios, 14 ao 24, (550), de três pisos que se prolonga até final da rua. Depois pela Rua do Príncipe até à Praça das Novas Nações, epicentro do bairro. Um olhar ao gaveto entre as ruas do Príncipe e de S. Tomé e viramos à direita na rua de Moçambique (551). O nº 23 é uma padaria que manteve a decoração original Deco e por isso visita obrigatória.

O percurso prossegue pela esquerda na Rua da Guiné e novamente à esquerda na Rua do Zaire. Destaque para o nº 8 (554) e ainda para o prédio gaveto, mais um, com a Rua do Forno do Tijolo, o nº 50 (541). Continuamos por esta rua mas agora em sentido descendente até ao cruzamento com a Rua de Angola, destaque para o prédio gaveto (o último) desta com a Rua da Guiné (540). Antes de sairmos do bairro de notar que todos os candeeiros de rua existentes permanecem fiéis à época.

Descendo a Rua de Angola, atravessamos a Av. Almirante Reis e continuamos do outro lado pela Febo Moniz. Em frente o Largo de Stª Bárbara e o nº 4 (298) a merecer atenção. Direita na Francisco Ribeiro até à António Pedro, rua modernista com destaques nos nºs 12 (301) e 25 (300) de 1935, do cunho de Cassiano Branco. Esquerda na Rua Marques de Silva, direita na de Arroios até à Pascoal de Melo e depois esquerda na Passos Manuel que com a José Estêvão delimita o Jardim Constantino, conhecedor de melhores dias, assim denominado em homenagem a Constantino José Sampaio e Melo, florista de génio do final do século 19. A Rua do Mindelo que une as anteriores, possui dois gémeos modernistas em nºs que não lhe pertencem: o nº 101 da Passos Manuel (292) e o 88 da José Estêvão (294). O 117 (295), desta última também é digno de registo. A Rua Alexandre Braga é uma rua modernista a precisar de cuidados.

Voltamos à Pascoal de Melo pela direita até à Almirante Reis e depois à esquerda até à Praça do Chile, bela praça modernista a necessitar de uma limpeza facial. Até à Alameda a Av. Almirante Reis apresenta um conjunto interessante de prédios entre Deco e modernistas, em sequência no passeio esquerdo e nem por isso no direito. Destaque para o nº162 (47), prédio ainda com influências clássicas e representante de um período de transição estética.

Na Alameda o antigo Cinema Império (48) hoje templo religioso, representa o epílogo de toda uma estética. Foi um dos últimos edifícios construídos em Lisboa a corroborar a linguagem plástica modernista, quiçá o último. Inaugurou em 1952 e tem a assinatura de Cassiano Branco. No piso térreo o Café Império, instituição lisboeta, e local auspicioso para uma paragem. A admirar o painel cerâmico de Jorge Barradas a decorar toda a parede do restaurante. Está classificado como IPP pelo IPPAR. Ainda um olhar derradeiro ao nº38 (49) da Alameda imediatamente ao lado do Império e no gaveto com a Quirino da Fonseca. Proponha-se a uma espreitadela para dentro da entrada do prédio e particularmente aos painéis cerâmicos existentes (Jorge Barradas?).

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