segunda-feira, 24 de maio de 2010

Do Rio ao Marquês

O nosso percurso começa na Av. Infante D. Henrique, perto da Praça do Comércio, na Estação Fluvial Sul e Sueste (foto), projecto de Cottinelli Telmo, de 1931, em vias de classificação pelo IPPAR. O percurso continua atravessando o vulgarmente conhecido “Campo das Cebolas”, praça notável e inútil enquanto estacionamento, cruzando a Rua da Alfândega e virando à esquerda na Rua dos Bacalhoeiros. Depois direita na Rua da Padaria que se transforma na Calçada do Correio Velho e finalmente segunda à esquerda na Rua de S. Mamede. O nº 17 A (foto) é um prédio de cariz modernista de Cassiano Branco, de 1933.

Descendo a S. Mamede caímos inevitavelmente na Madalena. Seguindo-a até ao final e virando à esquerda na Rua dos Condes de Monsanto, alcançamos a Praça da Figueira. Paragem obrigatória no 18 B/C, que mesmo não possuindo cariz modernista, é um regalo para a alma: falamos da Confeitaria Nacional, café fundado em 1829 por Baltazar Roiz Castanheiro.

No outro extremo da praça, pela esquerda, percorremos a Rua Dona Antão Vaz Almada, cruzamos o Largo de S. Domingos e sempre pela esquerda atingimos a Rua das Portas de S. Antão. A segunda rua à esquerda é a do Jardim do Regedor e o nº9 (598) guarda ainda uma memória de outras noites, o “Bristol Club”, famoso night-club de decoração modernista da autoria de Carlos Ramos, que ostentava no seu interior quadros de Almada Negreiros e Eduardo Viana e cujas famosas capas promocionais eram produzidas por Jorge Barradas e Emmérico Nunes.

No final da Rua Jardim do Regedor a Praça dos Restauradores e o antigo cinema Éden (596), hoje reconvertido em hotel (projecto de Frederico Valsassina) e considerado uma das obras modernistas mais emblemáticas de Cassiano Branco. Curiosamente e apesar de dois projectos sucessivos de sua autoria (1929 e 1931) a assinatura do projecto definitivo é de Carlos Dias (1933). A sala de espectáculos seria finalmente inaugurada em 1937. A sumptuosidade Deco do seu interior, hoje profundamente alterada, foi captada para a posteridade através do olhar cinéfilo de Wim Wenders (“Until the end of the World”). Está classificado Imóvel de Interesse Público pelo IPPAR .

Do Éden para o Parque Mayer são quatro quarteirões de distância pela esquerda e a entrada faz-se através da Rua do Salitre. O recinto de diversões entrou em decadência nos finais de 80 e com ele a primeira grande referência do modernismo nacional e obra mestra de Cristino da Silva, o “Capitólio” (251), sala de espectáculos inaugurada em 1931 e hoje um monumento à indigência imobiliária. Seleccionado  para a lista World Monuments Watch – 100 Most Endangered Sites em 2006. Classificado de IIP pelo IPPAR.

O nosso percurso prossegue através da Av. da Liberdade até ao nº 168 (252), antigo Hotel Vitória e hoje sede do Partido Comunista Português, de 1936, com projecto de Cassiano Branco e justamente apontada como a sua obra modernista mais paradigmática. Classificado como IIP pelo IPPAR.

Continuamos dobrando a primeira rua do nosso lado direito, Manuel de Jesus Coelho e depois à esquerda na Rodrigues Sampaio. Os nºs 15 (258), de 1938 e 17 (259), de 1943, são ambos da autoria de Cassiano Branco. Este último, Hotel Britania, merece uma visita atenta: a decoração original está preservada na íntegra e representa um dos acervos Deco mais interessantes de Lisboa. Na mesma rua ainda a destacar os nºs 50 (260) e 146 (534), de 1933, do cunho de Couto Martins. O nº 138 também possui cariz modernista.

Retrocedendo um pouco entramos à esquerda na Alexandre Herculano a tempo de apreciarmos os nºs 5 (533) e 7. Descendo a rua, dobramos à esquerda na de Stª Marta. Os nºs 53, 76, 78 e 88 (530), têm cunho modernista, sendo este último de Cassiano Branco, de 1935. No mesmo alinhamento, ainda que sobre a designação Largo do Andaluz mais dois prédios do mestre, os nºs 28 e 25, datados ambos de 1935.

Contornando o Largo do Andaluz pela direita entramos na Rua Luciano Cordeiro e seguimo-la até cairmos na Av. Duque de Loulé. O nº 73 (526) corresponde ao Hotel Embaixador e descendo a avenida, o nº 95 (525) tem a assinatura dos engºs Ávila do Amaral e Jacinto Robalo.

Para finalizarmos este percurso com chave de ouro resta-nos descer a Duque de Loulé até à Praça Marquês de Pombal. Contornando-a pela esquerda alcançamos a Av. da Liberdade. O nº 266 (263), foi prémio Valmor de 1940 e tem o cunho de Pardal Monteiro. É um edifício emblemático do modernismo português, influenciado pela sintaxe Deco e conta uma vez mais, com a colaboração de Almada Negreiros, quer na decoração da empena cega com mosaico cerâmico, quer  no interior com painéis alegóricos pintados a fresco. É classificado IIP pelo IPPAR.

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