No padrão decorativo Deco predominam as linhas rectas ou circulares estilizadas, as formas geométricas e o design abstrato. Assim as fachadas Deco adquirem rigor geométrico e ritmo linear,com fortes elementos decorativos em materiais nobres. Destacam-se o uso generalizado do betão, dos motivos femininos, dos tons rosa e da geometrização das formas. É a par de outras correntes estéticas do príncípio do século XX, construtivismo, cubismo, Bauhaus, futurismo, o catalizador do movimento modernista europeu.
Em Portugal assumiu um evolução progressiva do estilo arte nova das fachadas através da geometrização de todos os elementos estéticos e foi a partir da estética Deco que se evoluiu para o efémero modernismo português. Nas palavras da arqª Ana Tostões "... expressão balizada entre o novo gosto Deco e um purismo racionalista que se referenciava claramente nos modelos da vanguarda internacional do movimento moderno." A arquitectura modernista que se desenvolve em Portugal nas décadas de 20 e 30 tem um sentido claramente geracional e nasce do pensamento estético de um conjunto de arquitectos nascidos entre 1896 e 1898 ( Pardal Monteiro, Cristino da Silva, Carlos Ramos, Cottinneli Temo, Cassiano Branco, Jorge Segurado, Rogério de Azevedo). Na ausência de formulação teórica dada a formação académica em arquitectura extremamente conservadora quer receberam, é pela prática que desenvolvem o vocabulário modernista. De facto é legítimo afirmar-se que esta geração cresceu orfã do ponto de vista da conceptualização teórica e provavelmente por isso se deixaram influenciar pelo classicismo, de tal forma que se tornaram mais tarde, cúmplices e legitimadores da chamada arquitectura de regime (vulgo Estado Novo ou ainda Português Suave). Ainda assim durante os seus verdes anos modernistas produziram obra por demais significativa e influenciaram decisivamente as gerações de arquitectos posteriores. O seu legado particularmente em Lisboa, é vasto e merecedor de atenção e carinho particulares. É isso que modestamente nos propusemos a realizar nos Itinerários Modernistas ou os dias do Deco Português. Usem-nos e dêem-nos a conhecer por favor. Lisboa merece e precisa.
Este é ainda um itinerário em construção. Trata-se de uma primeira aproximação geográfica ao período modernista da arquitectura portuguesa e particularmente ao que foi construído em Lisboa durante as décadas de 20 e 30 do século passado e com o carácter mínimo indispensável para poder integrar aquela classificação.
Repito que esta se trata ainda de uma abordagem algo incipiente e sedenta de informação. O tempo a alimentará e servirá de mais e melhor estrutura informativa, nomeadamente no que concerne à ficha técnica dos edifícios em destaque.
Por outro lado, ainda não é um roteiro exaustivo ou seja, alguns bairros da cidade ainda não tiveram a merecida cobertura geográfica. Prometemos novidades para breve. Ainda assim a superfície lisboeta coberta é já significativa e o portfolio arquitectónico fascinante, na nossa apaixonada opinião.
Procurámos integrar neste itinerário não tão só os edifícios mais significativos e interessantes do período modernista mas todos aqueles que de forma mais modesta ou menos exuberante, constituem o património arquitectónico do movimento. O princípio seguido foi o de que “…se só ao pássaro mais belo fosse permitido cantar, a floresta seria um lugar solitário.”
{mosimae}O presente e inacabado itinerário foi um trabalho desenvolvido com poucos recursos, nomeadamente informativos, mas com muita paixão. Move-nos o amor à cidade, a esta Lisboa tão bela e tão maltratada. Alguns dos percursos realizados foram feitos com o recurso à memória que tínhamos da cidade. Encheu-nos de tristeza constatar que alguns dos edifícios de que nos recordávamos deixaram de existir e outros encontram-se devolutos e aparentemente condenados, presas da voragem do mau gosto imobiliário.
No melhor estilo Sioux devemos lembrar que a cidade não nos pertence, apenas a guardamos para as gerações vindouras. Não podemos permitir que a estas apenas seja permitido apreciar o modernismo arquitectónico português através dos volumes X e XI da Lisboa Desaparecida.
Alguns avisos à navegação:
- A ordem geográfica seguida no itinerário obedece a uma linha de orientação traçada de Ocidente para Oriente. Reservamo-nos a poder alterar este critério num futuro próximo.
- Os critérios seguidos para destacar um ou um conjunto de edifícios obedecem a critérios de apreciação pessoal e ao contexto urbano em que se encontram inscritos ou seja, o destaque só faz sentido em relação ao conjunto urbano que o rodeia.
- Alguns dos prédios dada a sua dimensão, apresentam vários números de polícia. Na atribuição de destaque optámos pelo número que serve a entrada principal da área residencial.
- Aconselhamos vivamente e sempre que a ocasião se proporcione, a uma espreitadela indiscreta às áreas comuns dos prédios referenciados. A maioria manteve a decoração original e merece olhar atento.
- Os critérios seguidos de classificação modernista são de espectro amplo e abarcam um conjunto de estilos diferentes (e.g., o estilo Art Deco primordial foi sempre incluído naquela classificação). Os puristas do estilo que nos perdoem, mas a nossa intenção fundamental foi a de caracterizar um itinerário e acima de tudo valorizar uma época no seu todo.
- Vários dos edifícios/prédios destacados são posteriores ao período da essência modernista (décadas de 20 e 30). Considerámos nestes casos que ainda continham as linhas e a estética globais do movimento.Foram excluídos deste itinerário diversos prédios por considerarmos que a sua estética se encontrava demasiadamente comprometida com o que globalmente se vulgarizou denominar “arquitectura de regime”. A fronteira em muitos casos é ténue e na dúvida imperaram os critérios pessoais. Perdoem-nos uma vez mais pela audácia selectiva.
- Os itinerários foram desenhados também em função do percurso ou seja, procurámos sempre que o caminho a percorrer fosse o mais interessante possível do ponto de vista turístico. Na verdade o resultado final aponta para uma outra Lisboa, uma cidade desconhecida dos roteiros turísticos, mas não menos bela e talvez por isso mais interessante.
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