segunda-feira, 24 de maio de 2010

Da Lapa ao Parque

Este é um itinerário de considerável extensão e provavelmente um dos mais interessantes percursos modernistas a realizar, quer pela qualidade arquitectónica dos prédios em evidência, quer pela malha urbana a percorrer. Recomendamos que a deslocação para o início do itinerário seja realizada através do eléctrico 28 (Martim Moniz – Prazeres), paragem Calçada da Estrela/Rua Borges Carneiro, considerado justamente o percurso de eléctrico mais bonito de Lisboa.

Começamos o nosso itinerário na Travessa de Santo Ildefonso com a Rua de Santo Amaro. O nº 2 (440) é um simples mas nem por isso menos curioso edifício de esquina. Na Rua da Imprensa à Estrela, segunda à direita para quem desce a Santo Amaro, o nº 25 (442) é um prédio de cariz modernista, Prémio Valmor 1942, projecto de António Maria dos Reis Camelo. Continuando pela mesma rua atingimos a Calçada da Estrela, viramos à esquerda e depois imediatamente à direita. O objectivo é o nº3 (443) da Almeida Brandão, prédio de Cassiano Branco (ver notas), de 1932. Subindo a Calçada da Estrela viramos na segunda rua à esquerda (Bela Vista à Lapa) e percorremo-la até ao final - Rua dos Navegantes. Viramos à direita e subimo-la até ao cruzamento com a Buenos Aires. Aqui (444) entre a S. Siro e a Navegantes encontra-se um prédio a merecer algum destaque.

Continuando pela Buenos Aires viramos na primeira à esquerda, Travessa dos Ferreiros e depois na Rua de Santana à direita. Ver os números 13, 15, 17 e 19. Voltamos pela Rua de Sant’ana à Lapa e percorremo-la até depois do cruzamento com a Buenos Aires. A destacar o nº 107 (451) e a referenciar os nºs 105 e 152.

O percurso continua pela Av. Infante Santo imediatamente à direita. Os números 348 até 372 e 263 até 355, formam um interessante conjunto modernista. Destaque para o nº 370 (73) e o nº 357 (67). No final da Infante Santo à esquerda, na Rua Domingos Sequeira nº 5ª A, tempo para uma pausa e apreciar a decoração Deco do “Café Lua Nova”. Em frente no nº 30 (32), morre de pé o antigo cinema Paris, de 1931, da autoria de Victor Manuel Piloto.

Cruzando o romântico Jardim da Estrela acabamos por encontrar a Avenida Álvares Cabral. O nº 102 (36) é um prédio Deco interessante, mas é mais à frente do lado esquerdo da avenida que a atenção fica cativa: os nº54 ao nº14 formam um conjunto modernista do qual os números 30, 34, 38, 42 (todos de 1935) e 40, 44, 46, 48, 14 (todos de 1936) estão atribuídos ao mestre Cassiano Branco. Parece-nos que o número 54 deve ser também de sua autoria (a estética é inconfundível), já que alguns dos seus prédios de rendimento tiveram assinatura de outrem devido aos atritos frequentes que o arquitecto manteve com a edilidade. O destaque vai para os números 34 (124), 46 (81) e 54 (75). O lado direito da rua também não é de todo despiciendo: os números 47, 33 ao 37, 27 (descaracterizado), 25,13, 11 e 1, formam um conjunto de relevo, sobretudo os nºs 33 a 37 (78), o antigo Jardim Cinema e Salão de Jogos Monumental, hoje loja chinesa, datado de 1931, do arquitecto Raul Martins e o nº 13 (132).

No Largo do Rato dobramos imediatamente à direita – Rua de S. Bento e em seguida na primeira à esquerda – Rua do Arco de S. Mamede. O nº 4 (243) é um solitário e primordial prédio Deco recentemente restaurado. Contígua a antiga casa de Frederico Daupiás, imóvel que esteve em vias de ser classificado pelo IPPAR e que entretanto foi abandonado à sua sorte. A referenciar os nºs 20 e 22 A e a merecer destaque, para além do já mencionado 4, os nºs 93 e 95 ambos de 1935 e com a assinatura de Cassiano Branco. A rua paralela à esquerda, Rua Maestro Paulo de Freitas Branco, tem no nº 24 um outro prédio datado do mesmo ano e também do mesmo arquitecto.

Depois do Largo de S. Mamede, prosseguimos pela Rua Nova de S. Mamede. O quarteirão constituído por esta e pela Rua do Salitre é na nossa opinião, um dos mais emblemáticos do modernismo português. Os prédios de rendimento vão do nº 7 ao 35 e nº 74 (87) na Rua Nova de S. Mamede e do nº 165 ao 187 na Rua do Salitre. Destaque para os nºs 7 (145) de 1937 e 179 (137) de 1934, ambos com assinatura de Cassiano Branco e nºs 17 (88), 169 (155) de Pardal Monteiro.

Da Rua do Salitre e pela Rua do Vale do Pereiro cruzamos a Alexandre Herculano, viramos à direita na Braamcamp e imediatamente à esquerda na Rodrigo da Fonseca. Os nºs 52 a 58, 72 a 76 e 75 a 101 têm carácter modernista. A realçar os nºs 56 (515) e 76 (93) e o 101 A (165), ” Farmácia Gomes” (96,97) pelo seu interior Deco preservado. Um olhar atento ao seu interior é recomendável. Retrocedendo, viramos na Venceslau de Morais, rua modernista por excelência mas de 1 número só. A Rua de Artilharia 1 apresenta uma sequência de prédios entre Deco e modernista bastante interessante, nºs 6 a 48 (o nº 24 está descaracterizado), (99) e nºs 65 (devoluto) e 67. A destacar os nºs 18 (199), datado de 1934 e com o cunho de Cassiano Branco e ainda o nº 34.

Cruzando a Av. Joaquim António de Aguiar, o nosso percurso continua pela Artilharia 1. Os quarteirões delimitados por esta artéria, pela Marquês da Fronteira a Norte, pela Castilho a Este e pela Joaquim António de Aguiar a Sul, terão formado uma malha urbana de cunho modernista e que tem vindo a ser progressivamente descaracterizada. São 10 quarteirões que merecem um olhar atento. A ordem do percurso é irrelevante que não a qualidade dos prédios referenciados. A saber: os nºs 102, 116 e 118 (189) da Artilharia 1; do nº 121 ao 129 (518) e 133 da Av. Marquês de Fronteira; os nºs 1, 16 e 28 a 44 da D. Francisco Manuel de Melo, com destaque para os nºs 28 (185) e 30 (186), ambos com a chancela de Cassiano Branco de 1935; os nºs 3 a 15, 6, 20 e 42 da Padre António Vieira, com destaque para os nºs 3 (183) e 6, actualmente em processo de restauro (?), também de Cassiano Branco de 1936; os nºs 158, 182 a 192, 204, 210 e 212 e 103 () a 111, 127 a 135, 143, 149 a 155 da Rodrigo da Fonseca, com destaque para o nº 143 (184) de Cassiano Branco (?), os gémeos 188 e 190 (181) e o prédio gaveto com a Padre António Vieira (180); os nºs 26, 36 a 72 e 7 a 15 da Sampaio e Pina, com destaque para o 36 (522), algo degradado; os nºs 9 a 17 da Marquês de Subserra, conjunto algo monocórdico a realizar gavetos quer com a Artilharia 1, quer com a Rodrigo da Fonseca.

O regresso à Av. Joaquim António de Aguiar deve efectuar-se no cruzamento com a Artilharia 1, bem no seu final. A Av. mantém praticamente a estrutura modernista intacta, ainda que algumas descaracterizações tenham ocorrido. Em ordem decrescente, nºs 66 e 64 e 73 a 45, 39 a 33, 21, 13 a 5. Vários são os edifícios a realçar: nºs 7 e 9 (524) de 1933, dos engºs Ávila do Amaral e Jacinto Robalo, em avançado estado de degradação, o nº 21 (foto), o nº 33 (170) de 1935 de Ávila do Amaral, o nº 37 (523) de 1937 de Cassiano Branco (descaracterizado), o nº 39 (166) de 1941 de Norte Júnior e ainda o nº 64 (100), esplendoroso exemplar Deco.
Para terminar este itinerário guardámos o quarteirão da Rua Castilho, à direita de quem desce a Joaquim António de Aguiar. Os nºs 57, 59, 61, 63 (descaracterizado), 65 (168), 71, 86 e 90 mantém ainda viva a chama modernista.

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